Adoro a revolução feminista, mas não há dia sem homens me explicando “o que acontece” com a mulherada
São eles, me perdoem, os que mais me aborrecem e me divertem ao mesmo tempo
Fico entediada até a morte em reincidir no assunto. Mas, por mais que uma mulher queira mudar de tema e falar, sei lá, de como Clara e Patrick não tem a menor química em O outro lado do paraíso, os colegas não a deixam elevar o tom do discurso. Desde que mulheres em todo mundo perderam o medo de chamar assédio de assédio; machismo de machismo; estupro de estupro e de não ignorar nenhum caso a respeito, não há um dia sem que um ou vários senhores nos expliquem de seus púlpitos o que acontece conosco, com a mulherada. Há os convencidos: homens que eram feministas sem saber, como muitas de nós. Há os convertidos: nunca havíamos visto tantos feministas juntos, sejam bem-vindos. Há os sexistas no armário: aqueles que não se atrevem a dizer em público o que soltam no privado porque são apedrejados, pobres. E há aqueles que sequer sabem qual é o tema do filme.
Estes últimos estão revoltadinhos em seus fóruns, seja no balcão do bar ou nas tribunas dos jornais: com o que mais queremos se já temos igualdade absoluta, com o que acreditamos com tanta denúncia e se perguntam se enlouquecemos ou o que está acontecendo com as mulheres. Estes, me perdoem, são os que mais me aborrecem e me divertem ao mesmo tempo. Estes senhores são tão importantes que nos alertam sobre a hecatombe, sobre o fim da civilização ocidental e até sobre a extinção da espécie, já que copular com uma senhora será impossível se as condições do coito não forem acordadas em um cartório. São eles que dizem, sem dizer, que abusamos da boa vontade. Aqueles que consentem que protestemos, mas sem exagerarmos. Aqueles que veem nisso uma guerra dos sexos. Aqueles que comparam feminismo e totalitarismo. Aqueles que acreditam que vamos persegui-los. Que preguiça. Talvez seja melhor ver O outro lado do paraíso, já que estamos nos ultimos capitulos, embora eu torça mais para que Clara termine sozinha.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.